quinta-feira, 28 de outubro de 2010

"MEMPHIS"


Com o fim do conjunto Colt 45, o jovem Dudu França e o menino Marcão
(como já era conhecido Marcos Maynard nas febris rodas do rock paulistano) convidaram Nescau (Marco Antonio F. Cardoso - baixista), Cláudio Callia (tecladista), Niccoli (Alberto Niccoli Jr.- baterista) e Xilo
(Juvir M. Moretti - guitarrista) para formar outra banda de rock.
Assim nasceu o Memphis, que em 1968 estreou no Clube Militar.
Dudu era o cantor e Maynard, guitarrista.

“Eu já era amigo do Seu Alfredo (Alfredo Santos Filho,
diretor social do Clube Círculo Militar) e consegui que ele nos convidasse para tocar nas famosas e concorridas domingueiras do clube. Foi lá que fomos descobertos pelo Cesare Benvenutti, o grande produtor na época de música jovem em Inglês.
Ele nos levou a um estúdio e começamos a gravar compactos simples para um selo chamado Mammuth. Nós fizemos vários discos com diferentes nomes de bandas: Joe Bridges, Kris Kringle, Beach Band, Baby Joe, etc.
Foi quando o Toninho Paladino nos levou para a RGE,
onde finalmente a banda gravou (usando seu próprio nome)
a música Sweet Daisy em compacto simples.”

Antes das gravações com Cesare, o organista Callia saiu da banda e Maynard, em apenas uma semana, aprendeu os primeiros acordes do instrumento para substituí-lo num grande show que seria realizado no Clube Pinheiros com a participação das cinco principais bandas de rock em inglês de São Paulo. No lugar de Callia, para as sessões de gravação de "Sweet Daisy", entrou Otávio Augusto, que ficaria famoso em carreira-solo como Pete Dunaway.
“Mas eu não estava satisfeito com o esquema do Memphis", diz Maynard. "As namoradas atrapalhavam nossa carreira e resolvi sair da banda. Havíamos gravado também com o nome de "Lee Jackson" ("Oh, Oh, La, La, La"). Aí eu disse aos integrantes da banda que queria ficar com o nome pois tentaria formar outro conjunto. Oh, Oh, La, La, La estava tocando muito nas rádios.”
Com a onda da dance music, a porta dos clubes se fechou para os conjuntos.
Dudu França então procurou outros caminhos indo para a carreira solo como
cantor de discoteca.

"COLT 45"


Era o fim da década de 60 e os Beatles trouxeram em suas canções uma revolução cultural e de comportamento.
Interessados em montar um conjunto musical, Marcos Maynard e seu primo Can (Antonio Carlos Macedo)
convidaram Zeca (Zacarias José da Conceição) para passar férias com eles em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo.
Foi quando combinaram criar uma banda. Da bossa nova migraram para o rock. Mas ainda faltava um baterista e
Dona Cecília contou ao filho que a mãe do Dudu França tinha dito que ele estava tocando bateria.
“Fomos então até a casa do Dudu, em Pinheiros (bairro da Zona Sul de São Paulo) e pela primeira vez vimos uma bateria.
Era uma Gope amarela. Que coisa mais linda! Aí o Dudu mostrou que era bom na bateria e no violão também.
Foi convidado e aceitou fazer parte da nossa banda. Eu era cantor e guitarrista-base, o Dudu, baterista,
o Can, guitarrista-solo e o Zeca era nosso contrabaixista”, relembra Maynard.
A banda estava formada mas as condições técnicas do grupo eram precaríssimas.
Havia um microfone muito ruim amarrado a um cabo de vassoura, que era o pedestal.
Os primeiros amplificadores foram comprados na loja Pirani, no Brás, e foram pagos em 24 prestações e
um tio do Maynard (Carlos) foi o heróico avalista.
“A primeira denominação da banda foi Bumbles Bees, que foi logo descartada pois o principal apresentador da televisão da época, Julio Rosemberg (lider de audiência com seu programa musical Na Crista da Onda),
não conseguia pronunciar direito o nome do grupo. Estreamos no programa cantando Yellow Submarine e logo
depois mudamos o nome do grupo para Colt 45.”
Em 1967 gravaram uma demo com duas canções, de um lado, Poor Side of Town, com a voz de Dudu França,
e no verso Maynard cantando, Don't Bring Me Down. “Mas só tenho o lado que eu gravei.
Um dia fui limpar o acetato e, acidentalmente desgravei o lado do Dudu.”
Um dia, um maestro amigo de seu pai assistiu os ensaios da banda e disse ao professor
Alceu que o cantor deveria ser o Dudu. Imediatamente, Maynard passou a ser a segunda voz do grupo.
"Achamos que deveríamos ter um órgão na banda. Meu primo disse que poderia tocar. Compramos um Diatrom que era o máximo. Foi quando conhecemos um guitarrista chamado Xilo. Estreamos com ele no Clube Círculo Militar, numa domingueira.
Nesta fase, o grupo foi contratado por Abelardo Figueiredo (diretor musical do Beco, principal
casa de espetáculos de São Paulo, nos anos 60) para substituir os Beat Boys
(conjunto argentino que fazia muito sucesso).

“O Abelardo achava que o Dudu, que era o cantor da banda, não devia ficar na bateria.
Queria que ele ficasse à frente da banda. Concordamos com ele, contratamos outro baterista e com ele fomos
fazer no canal 13 o programa Pernas, a Hora e a Vez, produzido pelo Abelardo e cujas estrelas eram
Aizita Nascimento e Norma Bengell. O programa era ao vivo e em nossa primeira apresentação houve um problema.
No final do nosso número, o baterista ao invés de ir abaixando o som, como havíamos ensaiado,
iniciou um longo solo de bateria. O Abelardo mandou demitir o músico e o Dudu, no mesmo dia, voltou para a bateria”.

As músicas de Johnny Rivers faziam muito sucesso e compunham o repertório do Colt 45.
Quando ele veio se apresentar em São Paulo, numa festa ficou conhecendo os integrantes da
banda e ensinou-os a tocar Summer Rain, uma canção de seu novo disco que não havia sido lançado ainda.
“Lembro que nós cantávamos esta música antes dela ser conhecida no Brasil. No nosso repertório incluíamos também
"Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones", em italiano.
E cantamos esta música no programa dos Incríveis, que eram nossos amigos e gravaram a música em português.”
O Colt 45 se apresentava em todos os programas de televisão e Roberto Carlos comandava o mais exitoso de todos:
Jovem Guarda, dominical e ao vivo. “Fomos apresentados como os novos amigos de Roberto Carlos. Cantei Nobody But Me.
Nesta mesma época, um amigo de meu pai, Brás Bacarin, convidou-nos para gravar na Chantecler um compacto simples em 1967, com as músicas: I've Been Loving You Too Long e Gimme Some Lovin´.
Gravamos apenas este disco e logo em seguida a banda acabou”.
Um detalhe curioso ocorreu com o Colt 45. A banda nunca havia tocado no Pinheiros, nem no Paulistano.
E seus integrantes não sabiam o motivo porque não eram convidados para se apresentar nestes clubes.
Um dia, Maynard conversando com Polé (campeão pan- americano e o melhor jogador de pólo aquático que o Pinheiros
teve em todos os tempos), pediu que ele intercedesse junto ao diretor social do clube.
Foi quando Polé, revoltado, descobriu que a banda não tinha espaço no Pinheiros porque o Zeca era negro
e havia preconceito racial no clube. Por imposição do atleta, o Colt 45 passou a tocar no Pinheiros e,
em seguida, no Paulistano.